Keynote Speakers
Conferencistas · Ponentes confirmados
Maria Adelaide MIRANDA, IEM - Universidade Nova de Lisboa
Imagens de mistério. A performance da imagem em torno do Te Igitur nos missais românicos Nesta comunicação iremos reflectir sobre os processos de produção e circulação da imagem nos manuscritos litúrgicos, nomeadamente nos missais românicos cistercienses da abadia de Santa Maria de Alcobaça. Na multiplicidade de imagens produzidas escolhemos a que acompanha o Canon da Missa. Em finais do séc. VIII o iluminador do Sacramentário de Gellona criou uma imagem para o Te Igitur, em que o T inicial se confunde com a própria imagem da crucifixão. Esta imagem terá servido como modelo aos scriptoria carolíngios e a partir deles expande-se através dos manuscritos da Alta Idade Média. Os iluminadores alcobacenses, vão adoptar num conjunto de missais uma nova imagem visual que celebra e exalta igualmente o sagrado. Munidos de uma tradição não figurativa e de acordo com preceitos cistercienses, ultrapassam os valores da representação através do processo que Jean Claude Bonne denomina ornamentalização da arte. Para assinalar o momento mais solene, amago da liturgia eucarística - o T que inicia o Te Igitur - metamorfoseia –se num T curvo confundindo-se com corpo de dragão que alberga uma vegetação dinâmica, criativa e vibrante de cor, que podemos inserir no movimento artístico 1200. A empaginação do fólio que contem esta imagem, destaca-se no contexto dos manuscritos, revelando claramente como se conjuga no livro do celebrante - liturgia, arte e função. Santa Maria de Alcobaça possui dez missais, cuja análise do santoral nos remete para um período que vai de 1130 a 1200. Estes manuscritos reafirmam a liberdade artística e a criatividade destes mestres iluminadores face aos modelos cistercienses e ibéricos, em imagens que se destacam pela cor e forma, com elementos de inspiração no mundo anglo saxónico. |