Speakers
Conferencistas convidados · Ponentes
Maria Coutinho, Universidade Nova de Lisboa
Carmina figurata em movimento : as composições figuradas e os acrotelésticos do Codex Vigilanus Em 976 concluía-se o códice mais emblemático do scriptorium de San Martín de Albelda que chegou até nós: o codex vigilanus. A obra, redigida por Vigilano, pelo seu socius Serracino (a quem terá cabido a iluminura) e ainda pelo discipulus Garcia, contém Excerpta canonum, actas de vários concílios, 103 decretais, a Vita Salvi abbatis, homilias, entre outros. Trata-se de um códice profusamente iluminado, num estilo peculiar, sendo hoje bem reconhecida a confluência de motivos estilísticos de diversas proveniências geográficas. Contudo, o que aqui merecerá a nossa atenção é o facto, imprevisto, do manuscrito abrir com um conjunto de cinco poemas figurados e terminar com dois acrotelésticos. Interessará, pois, explorar a origem destas composições figuradas. Terão sido influenciadas pelos poemas carolíngios dos séculos VIII e IX, que poderiam ter transitado até Albelda? Com efeito, esta possibilidade vai ao encontro do que J. Guilmain e outros autores referem sobre diversos elementos estilísticos do manuscrito, que se supõe derivarem de modelos franco-insulares, então em circulação. Ou resultarão, por outra parte, dadas as proximidades formais, directamente das primígenas composições de Porfírio? E que relação pode ser estabelecida com a prática, identificada por Díaz y Díaz, de compor colofões ocasionalmente figurados, em voga no norte da Península, ou mesmo com o poema figurado atribuído ao Beato de Liébana? Procurar-se-á explorar alguns dos caminhos que estas interrogações sugerem, atentando à movimentação de manuscritos e modelos compositivos, não sem deixar de considerar o poder de interpelação dos próprios poemas-imagens, quer por razões estilísticas e gráficas, quer por se lhes reconhecer uma vocação simbólica ou performativa. Pois não é de somenos que os autores tenham decidido inaugurar o códice com súplicas aos arcanjos a favor dos monarcas, de si próprios e do cenóbio, redigidas nos interstícios de composições poéticas e imagéticas tão pouco usuais. |